sexta-feira, fevereiro 20, 2009

Laranja

A alquimia que mantém um casal unido sempre foi e há de ser um dos mais belos mistérios da natureza. Genética, educação, princípios morais e uma série de factores aliatórios como a sorte e a cor dos olhos podem ajudar, mas há sempre qualquer coisa para lá do racional, do dizível, do explicável. Uma espécie de magia que mantém a frescura e a vivacidade; uma forma de arte para transformar a rotina num peso leve. E claro, muita sabedoria para saber como lidar com os piores momentos com a displicência equivalente ao empenho que se põe nos melhores.
E além disso, muito amor, porque viver com alguém não é algo que se suporte ou se aguente, não há meio termo; ou é bom, ou é óptimo ou então é um inferno, mesmo que o inferno seja uma paz podre sem ondas, estagnada e a ganhar verdete de cinco em cinco minutos.

A teoria da cara-metade desde sempre perseguiu a humanidade. Os árabes imaginaram Alá a cortar laranjas e espalhá-las pela terra ao acaso, esperando que o destino a pusesse a rolar na direcção uma da outra. Mas esta teoria é redutora, porque uma laranja pode encaixar com várias metades, pelo menos metaforicamente, já que nunca fiz a experiência com os citados citrinos. Na década de 90 que foi prolixa em divagações místicas apareceram livros sobre a alma gémea, uma espécie de guia emocional para os mais carentes, uma mistura de paliativo com ansiolítico de efeito estonteante e entorpecedor para orientar os sós e abandonados. Vivemos numa sociedade onde há remédio e soluções à la carte para tudo, amor incluído. E pergunto, o que faz com que um homem e uma mulher fiquem juntos para sempre? Com ou sem a ajuda de Deus ou de Alá há muitos que ainda o conseguem. E falo dos que estão juntos porque querem, os que estão juntos por circunstâncias extrínsecas à essência da questão não entram neste campeonato. Capiché?

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