quarta-feira, março 25, 2009

Proezas

A vulgarização do sexo trouxe ao comum mortal certas vantagens bem como alguns inconvenientes. Quando o sexo era aparentemente um bem escasso e pouco acessível, tudo dava mais trabalho, mas talvez as pessoas corressem menos riscos. Refiro-me apenas à prática do acto em si que, por mais banalizado que esteja, não deixa por isso de ser um momento íntimo de entrega e de troca de energias, de fluidos e de outras particularidades.É claro que há sexo e sexo. Há sexo pago ou sexo em troca de favores, sexo puro e duro em encontros furtivos pelo simples prazer do acto, sexo mecânico com um parceiro que está sempre à mão, sexo de fim de semana quando as pessoas saem à noite para irem à caça, sexo por carência, por vingança, por medo da solidão, por terror da morte. O sexo pode ser um princípio, um meio ou um fim, tudo é legítimo desde que se saiba o que é a que finalidade se destina. Não sou contra a prostituição desde que quem pratica tal actividade o faça de livre vontade e não sob o jugo do tráfico humano e da escravidão; entendo que o desejo seja urgente e que a conveniência do sexo pago constitua uma forma de o resolver. Aceito até que as pessoas troquem sexo por afecto ou companhia. O que me custa a aceitar é que o sexo seja praticado com tal leveza que acabe por afastar as pessoas. É como andar nos carrinhos de choque, toma lá um encontrão e põe-te a andar antes que acabe a ficha.
ANTES e depois do sexo, no que toca ao conhecimento do outro, há muito a fazer. É preciso conversar, ouvir, ter tempo para conhecer quem está sentado do outro lado da mesa. Sabe bem podermos saborear um tempo que nem sequer é um compasso de espera mas antes um caminho a percorrer no qual mostramos como somos, o que sentimos, o que desejamos e o que tememos. O tempo e a calma são fundamentais. E mesmo que o sexo chegue depressa por urgência de ambas as partes, ele não substitui o entendimento que se vai criando com tempo e vontade de estar com a outra pessoa fora da cama. Ouvir música, conversar, ir a uma exposição, trocar livros, jantar com amigos, ir às compras, tudo pode dar prazer se a pessoa que está connosco, além de ser o nosso sócio nas proezas sexuais, também é o nosso braço direito para o dia a dia.
Quando existe alguém importante na nossa vida que não está na categoria dos amigos nem da família e que tem connosco uma relação amorosa, não faz sentido que participe activamente na nossa vida?
Já escrevi nesta coluna que uma queca nunca é só uma queca, porque se o for, rapidamente perde o interesse, e se for mais do que isso, então é porque existe algum tipo de envolvimento, ainda que uma ou ambas as partes o neguem. Com isto quero dizer que há momentos em que talvez valha a pena esperar antes de uma pessoa se atirar de mergulho. Até porque podem acontecer coisas piores do que a água estar fria; a piscina pode estar vazia. A espera é o tempo, é deixar crescer aquilo que há de ser. É sempre pouco quando há muito para dar e receber. E além disso como disse o outro uma pessoa não pode estar sempre a comer, a dormir ou a f… e por isso é que inventaram a filosofia.

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